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Dois dias acompanhando o trabalho dos Agentes de saúde na linha de frente contra a pandemia

Os agente comunitária de saúde e de combate às endemias de todo o Brasil enfrentam uma série de problemas na realização de seus trabalhos —  Foto/Reprodução.  

Dois dias acompanhando o trabalho dos Agentes de saúde na linha de frente contra a pandemia
Fonte:  Jornal Floripa  —  Publicado no  CN em 22.jun.2020. 

Brasil agente comunitária de saúde Cristina Pinheiro, 46, bate palmas no portão. Logo, uma mulher de idade mais avançada sai na janela e pede para ela esperar.

Na calçada, começa uma conversa amistosa, em que Cristina, chamada de Cris por todos, faz um questionário sobre exames pendentes, consultas médicas e eventuais sintomas de coronavírus.

Cristina atua no Jardim Celeste, região do Jardim São Luís, distrito do extremo sul de São Paulo que está entre os que mais registram crescimento de mortes por coronavírus e por suspeitas da doença. Na ponta do sistema de saúde mais próxima à população, ela age na tentativa de frear a espiral de óbitos, por meio da prevenção e detecção de casos precocemente.

A reportagem da Folha acompanhou agentes comunitárias na capital durante dois dias. Na linha de frente contra a pandemia nos bairros da periferia, os 9.014 profissionais, em sua maioria mulheres, que atuam a serviço da Prefeitura de São Paulo nesta função enfrentam obstáculos como a desinformação e politização da pandemia, a resistência dos jovens e até as aglomerações causadas pelos pancadões —as festas movidas a funk que ocorrem, muitas vezes, no meio da rua.

Cristina mora na mesma rua onde trabalha. Aprendeu, com sete anos de atuação na mesma área, a reconhecer quem segue as recomendações médicas e quem não segue. Até porque é para elas que as pessoas reclamam quando os familiares não estão se cuidando.

Os agentes de saúde auxiliam a população na marcação de consultas, exames, receituário, entre outros serviços, por meio de visitas domiciliares que ocorrem ao menos uma vez por mês.

O coronavírus, porém, mudou bastante o trabalho. A começar pela proximidade, que diminuiu. Agora, já não se pode entrar na casa das pessoas, um meio de evitar um possível contágio.

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Hoje, parte do trabalho também passa por ajudar pessoas em grupo de risco, como idosos, hipertensos e diabéticos, a evitar idas desnecessárias à UBS e, quando não for possível, providenciar atendimento fora do horário de pico. Os tratamentos das doenças crônicas também não podem ser esquecidos.

“Costumo dizer que o agente de saúde é um pouco de tudo, um pouco de médico, um pouco de psicólogo, porque você escuta as queixas, orienta, às vezes a pessoa não confia e você tem que trabalhar tudo isso”, diz Cristina.

Em meio a uma disputa entre Jair Bolsonaro (sem partido) e governadores, há ainda uma parte da população que não acredita na doença, em parte estimulada pelo discurso do presidente, que minimiza a letalidade do novo vírus. “Tem muita gente que acredita que é jogo político”, conta Cristina.

Por outro lado, conforme cresce o número de infectados, vai diminuindo a resistência às medidas de prevenção. No dia em que a reportagem acompanhou Cristina, uma pessoa havia morrido naquela região. Só se falava no episódio.

A dona de casa Eunice Santos, 59, parou a equipe da agente para saber como poderia fazer o teste na UBS após ter contato com a vítima da doença. “Morreu um amigo meu de coronavírus. Eu ia levar comida para ele, sempre de máscara e luva, mas quero saber como fazer o teste”, disse ela, que foi orientada a comparecer à UBS para tratar do assunto.

Caso haja a infecção, muitos doentes com coronavírus são acompanhados por meio de ligações da equipe de saúde da UBS, em vez das visitas domiciliares. Se os sintomas piorarem, a pessoa é internada.

Gerente da UBS do Jardim Celeste, onde Cristina trabalha, Thatiana Pereira Vasconcelos Pinto diz que, além das visitas, os agentes da saúde fazem ações de sensibilização no bairro. Com faixas educativas e música, esse tipo atividade geralmente acontece perto de áreas com grande aglomeração, como lotéricas, agências bancárias e comércios.

A ideia é tornar as ações de prevenção parte do cotidiano. “Nós insistimos. Educação em saúde é muito você internalizar que aquilo é prejudicial à sua saúde ou não”, diz Thatiana.

No caso dos jovens, o processo de convencimento é mais difícil.

“Os jovens têm o costume de fazer o pancadão. Eles ficam juntos, não usam máscara, usam aquele narguile, e não é cada um que tem o seu, então é muito complicado isso aí”, diz Rosangela Corrêa, 55, conhecida como Rose, agente de saúde da UBS Jardim São Jorge, na zona oeste. “Para o pessoal que vai nesse pancadão a gente tem que reforçar mais ainda”.

Rosangela atua especificamente na comunidade do Miolo, onde mora. Ali, é responsável pela saúde dos moradores de 210 residências. “Nas casas aqui, uma parede serve para as duas famílias. Acabou um portão começa outro, todas as casas são assim. O contato é muito próximo, tem que tomar muito cuidado”, diz ela.

Na comunidade, ao menos uma pessoa já morreu com coronavírus. Outros foram infectados e lidam com a doença em casas onde é impossível manter qualquer isolamento.

“O serviço da gente triplicou. Eu tenho que visitar essas pessoas uma vez por mês. Quando tem pessoas acamada, com diabetes ou idoso, aí sim vou mais que uma vez. Tem pessoas que eu tenho que ir oito, dez, vezes lá”, diz.

Rosangela tem distribuído máscaras. Mas não só isso. Ela também ajuda famílias atingidas pelo coronavírus, seja fisicamente ou financeiramente.

“O lado social é terrível, porque muita gente fica desempregado. Uma pessoa que esteja triste, abatida, preocupada, vai baixar a imunidade dessa pessoa”, diz. “Então eu procuro ONG, peço doação de alimentos. Desde março, já foram distribuídas 200 cestas básicas por aqui.”

Muito expostas, as agentes de saúde vivem sob grande carga emocional e risco do contágio. Rosangela vive com uma filha adulta. Hipertensa, está no grupo de risco. “Quando começou, fiquei muito assustada, falei: ‘vou entrar em parafuso’. Depois, eu parei de ter medo e comecei a me proteger. A gente usa máscara, luva, álcool gel e faz distanciamento.”

Em meio a isso tudo, algo que mexe com ela que vê os estragos da doença no dia a dia é a minimização do problema. “Quando tem algum tipo de conversa assim, o trabalho piora. Eu perdi pessoas que eu amava, perdi uma amiga de 23 anos com coronavírus. 

 



Médicos voluntários do Projeto Missão Covid atendem pessoas com suspeita da doença ou com dúvidas sobre o novo coronavírus. 







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