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Entenda por que o Chile passa por um pico de novos casos de Covid-19 mesmo com a vacinação adiantada

   Chilenos esperam sua vez de receber a vacina em centro de imunização em Santiago. —  Foto/Reprodução/CLAUDIO REYES / AFP/16-3-21.

Entenda por que o Chile passa por um pico de novos casos de Covid-19 mesmo com a vacinação adiantada
Publicado no Conexão Notícia em 23.mar.2021.  

Coronavírus  | A campanha de imunização do Chile contra a Covid-19 é inegavelmente veloz: 30% da população já recebeu ao menos uma dose da vacina. Em termos percentuais, o país fica atrás apenas de Israel, Seychelles, Emirados Árabes Unidos e Mônaco. Apesar dos 5,6 milhões de inoculados, no entanto, o Chile atravessa um de seus momentos mais críticos da pandemia, ponderando até mesmo o adiamento das esperadas eleições de abril para a Assembleia Constituinte.

As razões para o contraste são complexas, passando pelo relaxamento das restrições, pelo otimismo da população com a vacina e por políticas públicas criticadas por especialistas. Santiago lança um alerta para o resto do continente de que, mesmo com a vacinação em curso, é necessário respeitar as diretrizes sanitárias.

O Chile, com uma população de 18,7 milhões de pessoas, tem hoje uma média de 5,8 mil novos casos de Covid-19 por dia — a estatística só é inferior aos números de junho do ano passado, quando houve uma média de 6,7 mil diagnósticos diários. O número de casos ativos bateu recorde na semana passada, chegando a ultrapassar 40 mil, assim como a ocupação de leitos de terapia intensiva, que chega a 95%.

A partir de quinta, a quarentena no país ficará ainda mais restrita: dois em cada três chilenos, ou 13,7 milhões de pessoas, estarão sob confinamento, a maior quantidade desde o início da pandemia. Entre as regiões afetadas, está parte significativa da região metropolitana de Santiago. O governo também impôs uma quarentena em hotéis sanitários para passageiros que passaram pelo Brasil, em uma tentativa de conter a ainda mais contagiosa variante P1, identificada primeiramente em Manaus.

Na quarta, o Senado e o Executivo chileno realizarão ainda uma sessão conjunta para discutir como proceder nas eleições de 10 e 11 de abril, quando a população escolherá os constituintes. A redação da nova Carta foi decidida em um histórico plebiscito do ano passado, convocado diante dos protestos contra a desigualdade que explodiram em 2019. A Constituição atual, herdada da ditadura de Augusto Pinochet, dificulta a maior participação do Estado em questões como saúde, previdência e educação.

Para adiar o pleito, que também elegerá vereadores, prefeitos e governadores, seria necessária uma reforma constitucional com quórum de dois terços. Segundo o jornal La Tercera, o governo de Sebastián Piñera não tem intenções de postergá-lo neste momento, discutindo maneiras de torná-lo mais seguro. Ainda assim, sonda dirigentes políticos nos bastidores para apurar o apoio a uma eventual mudança.

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Fatores múltiplos
Por mais acelerada que esteja, a campanha de vacinação chilena não está perto da imunização em massa, que no caso da Covid-19 estima-se que ocorra quando mais de 70% da população estiver inoculada. Ela ajuda na redução das internações e das mortes, mas ainda pouco faz sozinha para reduzir o contágio. Para María Soledad Martínez Gutiérrez, professora da Universidade do Chile, a estratégia comunicacional do governo Piñera colabora para o contraste:

Dá-se muita ênfase ao êxito da vacinação, mas não se reforça com a mesma intensidade a questão do contágio — disse a especialista em saúde pública em entrevista ao GLOBO. — Sabemos que a vacina diminui as chances de casos graves, mas a transmissão não vai se reduzir completamente.


Há uma série de fatores que explicam o agravamento da crise, impulsionado pelas novas cepas mais contagiosas. Dois deles são evidentes no aniversário de um ano da pandemia: o cansaço natural da população com as restrições e a necessidade do retorno ao trabalho presencial em um país onde mais de 40% da população está empregada no setor informal, segundo dados da Organização Internacional do Trabalho.

O alívio das restrições durante os meses de verão, reconheceu inclusive o Ministério da Saúde, foi outro fator de agravamento da pandemia. Durante as férias, algo entre 4 e 5 milhões de pessoas se movimentaram para regiões de balneário que hoje se tornaram pólos da doença.

A imunização acelerada é um mérito do governo, ainda mais evidente diante de outros países latino-americanos: apenas 5,58% dos brasileiros e 5,56% dos argentinos receberam ao menos uma dose da vacina contra a Covid-19. O Chile saiu na frente ainda durante as negociações, em março e abril de 2020, quando buscou garantir um leque extenso e variado de vacinas antes mesmo que sua eficácia fosse comprovada. Para isso, não se ateve às preferências geopolíticas, recorrendo a todos os lados possíveis.

Muitas doses e saúde primária
Até o momento, o Chile assegurou o dobro de doses suficientes para vacinar sua população inteira — algo que muitos criticam por limitar o acesso de outros países. Segundo dados do início do mês, o país comprou 10 milhões de doses da Pfizer/BioNTech e até 4 milhões da AstraZeneca/Oxford e da Janssen. A elas, somam-se mais 7,6 milhões da Covax, iniciativa multilateral para garantir inoculantes para as nações mais pobres e em desenvolvimento. Há ainda negociações para adquirir doses da russa Sputnik e da sino-canadense CanSino.

A principal aposta, no entanto, foi na SinoVac, facilitada por acordos preexistentes entre a prestigiosa Universidade Católica do país e o laboratório. No domingo, desembarcou em Santiago o sexto carregamento da vacina, elevando o total de doses já entregues para 12 milhões. O Chile deverá receber 20 milhões de doses do imunizante chinês neste ano e mais 20 milhões anuais até 2024.

Além de comprar as doses, o governo chileno se assegurou de que elas chegariam rapidamente no braço das pessoas. Há postos em shoppings, clínicas e estádios e um registro nacional unificado, que facilita o controle. A campanha também tem um cronograma organizado e de abrangência nacional, que prioriza certos grupos e faixas etárias de acordo com o dia da semana. A protagonista, contudo, é a eficiência da rede de saúde primária do país:

— Ela é muito potente e chega a todos os cantos. Há décadas, ela conduz campanhas de vacinação com muito sucesso, com equipes que conhecem o território e sabem onde estão as pessoas que não teriam como buscar a vacina por conta própria — afirmou Martínez.

Para a professora, o sucesso também é explicado pela confiança das autoridades e da população na ciência, o que facilita passar uma mensagem coesa:

— O movimento antivacinas não é popular no Chile, não tem muita importância — afirmou Martínez. — Não há partidos se posicionando contra as vacinas ou contra medidas efetivas de segurança, como as máscaras. Todo o espectro político esteve de acordo.

O Globo

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